segunda-feira, 25 de outubro de 2010

A CONTRA-REVOLUÇÃO

Em 1849, forças contra-revolucionárias restauraram a ordem, mas a monarquia absolutista e os direitos feudais da aristocracia fundiária haviam sido tacitamente abandonados.
Na França, como se via, foi proclamada uma República em 1848, e os operários exigiram a mudança do rumo da política laboral; todavia as suas reivindicações foram reprimidas pela burguesia conservadora, adversa a uma profunda reforma social e laboral. Depois de sufocada a Revolução, a França entrou num novo ciclo, com a subida ao poder do imperador Napoleão III.
A burguesia apercebera-se dos perigos das revoluções, tomando consciência de que seus anseios políticos poderiam ser alcançados pela via do sufrágio universal, evitando conflitos e sublevações. Assim, a revolução de 1848 foi o movimento que posicionou definitivamente burguesia e proletariado em campos opostos, o que marcaria profundamente os embates políticos vindouros.
Embora tenham fracassado, as revoluções alemãs e italianas de 1848 prepararam o terreno para a unificação desses países, que foi realizada entre 1861 e 1871. A Áustria, por sua vez, teve que acatar, desde 1867, o compromisso de reconhecimento da soberania húngara.

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REVOLUÇÃO DE 1848 DOS HÚNGAROS

Em fevereiro e março de 1848, as notícias sobre as insurreições em Paris e Viena deram estímulo aos liberais húngaros para desencadear a rebelião nacional pela independência. Um movimento pela independência húngara, liderado pelo patriota húngaro Lajos Kossuth, declarou a independência de todos os territórios magiares e proporcionou, em março de 1849, um governo republicano separatista de curta duração, com sede em Budapeste. O nacionalismo exacerbado e a recusa dos húngaros em considerar a independência de suas próprias minorias resultou, porém, em uma insurreição das forças croatas, sérvias e da Transilvânia (Romênia).
Em setembro, o Exército austríaco, que já conseguira sufocar a rebelião na Itália, invadiu a Hungria, e Budapeste caiu em janeiro de 1849. A cidade foi retomada em maio, mas a intervenção da Rússia a favor da Áustria levou à derrota dos rebeldes em agosto. Kossuth foi obrigado a exilar-se na Turquia após o fracasso de Villagos, em 13 de agosto de 1849.

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REVOLUÇÃO NOS ESTADOS ITALIANOS DE 1848

Nos Estados italianos, onde a onda revolucionária teve seu foco inicial, a Revolução de 48 teve um caráter extremamente nacionalista, com uma tripla aspiração: à liberdade, à unidade e à independência italianas. É certo porém, que não possuíam coesão porquanto havia três tendências visando a unificação: os Neoguelfistas, liderados por Gioberti, pretendiam uma confederação de Estados, cabendo a direção superior ao Papa; os Monarquistas Constitucionais, inspirados por Cesare Balbo e Mássimo D'Azeglio, batiam-se por um Estado nacional unitário governado pela Casa de Sabóia, reinante no Piemonte-Sardenha; e os Republicanos dirigidos por Giuseppe Mazzini, além da atuação destacada de Giuseppe Garibaldi, empenhados em derrubar as dinastias e implantar uma República Democrática.
O Papa Pio IX e o rei do Piemonte-Sardenha, Carlos Alberto, implantaram uma série de reformas liberais em seus estados, a partir de 1846, sobretudo a liberdade de imprensa, que ganhou a adesão dos patriotas, como Mazzini.
A insurreição eclodiu nos Estados conservadores. Em janeiro 1848 os sicilianos rebelaram-se contra o poder dos Bourbon e adotaram a Constituição espanhola de 1812. Em seguida, no reino de Nápoles, reivindicou-se a implantação das mesmas leis em seu território. Em 12 de janeiro, foi formado um governo provisório e Fernando II, sob pressão britânica, promulgou imediatamente a constituição, que passou a ser seguida no restante da Itália, uma vez que o Papa Pio IX se opôs à intervenção de tropas austríacas dispostas a reprimir os nacionalistas. Insurreições nacional-populares ocorreram em Turim, Milão e Roma.
No Reino Lombardo-Vêneto, a revolta de Milão, de 18 a 23 de março, conseguiu expulsar o governador militar austríaco, general Josef Radetzky. Simultaneamente, em Veneza, onde os protestos redobraram após o anúncio da queda de Metternich, lutava-se contra a dominação austríaca, da mesma forma que em Milão, e Daniele Manin e seus seguidores proclamaram a república.
Em Florença, Roma e Turim, os soberanos se anteciparam à insurreição promulgando Constituições.
Mazzini, no norte da Itália, proclamou a República Toscana e, em 1849, o território pertencente a Igreja foi anexado, sendo proclamada a República Romana em 22 de fevereiro. Entretanto, a sonhada república unificada e democrática, almejada por Mazzini, não teve lugar nesta ocasião pois a intervenção francesa pôs um fim à insurreição e permitiu a volta do papa, que restabeleceu as instituições do passado
Apesar dos sucessos iniciais, a divisão dos revolucionários e a intervenção externa restabeleceram a ordem anterior. A revolução foi derrotada com o apoio de forças vindas da França e da Áustria, países interessados no restabelecimento das monarquias absolutistas e do poder do papa. O movimento de Mazzini, apesar de outras tentativas de insurreição, em 1853, enfraquecia. As forças que queriam construir uma Itália mais moderna e democrática foram vencidas. A derrota dos revolucionários provocou a restauração do absolutismo em quase todos os Estados italianos. O único reino que manteve uma constituição liberal foi o Piemonte-Sardenha. Quase todos os partidos empenhados na unificação depositaram aí suas esperanças.
Após uma fase de estabilidade dos regimes liberais, o rei do Piemonte-Sardenha, Carlos Alberto, contando unicamente com suas próprias forças (seu lema era "L´Italia fará da sé"), se deixou envolver na guerra contra a Áustria, em março de 1849, tentando expulsar os austríacos do Reino Lombardo-Vêneto (regiões setentrionais dominadas então pela Áustria). Foi vencido em Custozza e Novara e forçado a abdicar em favor de seu filho Vítor Emanuel II.
As revoluções italianas fracassaram em virtude da reação do absolutismo, encorajado pela Áustria, do avanço do radicalismo social de Mazzini e, sobretudo, pelo caráter ainda incipiente do capitalismo, o que reduzia o potencial das forças revolucionárias. Embora fracassado, as Revoluções de 1848-1849 revelaram o caminho para concretizar a unificação. Deixaram evidente a necessidade de obter uma ajuda externa capaz de neutralizar o poderio austríaco, um dos obstáculos à unificação. Patentearam ainda o neoguelfismo, em que o Papa Pio IX não desejou se envolver no processo de unificação, também a necessidade de união sob o Reino da Sardenha, não só porque a dinastia de Sabóia era a única fora da influência austríaca, mas também pelo esvaziamento dos demais movimentos tal como o republicanismo, pela prisão, morte ou exílio de inúmeros dirigentes.
Depois da onda revolucionária, os partidos mais tradicionais cresceram, promovendo posteriormente a unidade italiana, em bases não-democráticas, sob a égide do Reino Sardo-Piemontês.

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REVOLUÇÃO DOS TCHECOS 1848

Em Praga, Rieger conseguiu a aprovação de uma constituição liberal, a Carta da Boêmia, que reconhecia os direitos históricos do povo tcheco. A vontade de afirmar a identidade eslava face ao germanismo concretizou-se, no dia 2 de junho, com a reunião do Congresso Pan-Eslavo em Praga, iniciativa do historiadorFrantisek Palacký. O Congresso Pan-Eslavo inspirou manifestações nacionalistas tchecas, reivindicando autonomia numa Áustria federativa. Esse congresso foi dissolvido militarmente.

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REVOLUÇÃO DE 1848 NA ÁUSTRIA

A revolução no império austríaco foi favorecida pelo enfraquecimento da monarquia, pelo desenvolvimento de uma corrente liberal no seio da sociedade burguesa e aristocrática de Viena e pela reivindicação de um reconhecimento dos povos de idioma não germânico: poloneses, tchecos, romenos, croatas, italianos do norte e principalmente os húngaros, que dispunham de um governo.
O movimento austríaco contra o regime absolutista de Fernando I e seu braço-direito, o príncipe de Metternich, que governava havia trinta anos, eclodiu em Viena com manifestações de rua e barricadas. No dia 13 de março de 1848, tumultos na Áustria liderados pela burguesia insuflaram a assembléia da Baixa Áustria a marchar para o palácio de Hofburg, obrigando o chanceler Metternich a fugir para a liberal Inglaterra. Foi formado um governo liberal, e a Assembléia Constituinte reunida em julho votou a abolição dos direitos feudais, conforme já ocorrera na Alemanha. O imperador Fernando I foi obrigado a aceitar uma Constituição, o parlamentarismo e a emancipação do campesinato. O Parlamento passou a ser eleito pelo sufrágio universal, várias instituições feudais foram abolidas, teve fim a censura à imprensa e formou-se uma guarda nacional para a defesa das reivindicações liberais.
A burguesia austríaca, entretanto, não soube conservar sua revolução. A aristocracia retomou o poder, liderada pelo novo chanceler, o príncipe de Schwartzenberg. O exército e o chanceler Schwartzenberg retomaram Praga e Viena, e obrigaram Fernando I a abdicar em nome de seu filho Francisco José I, então com 18 anos. Dissolvido o parlamento, os liberais foram perseguidos, as reformas abolidas e o absolutismo restaurado.
Checos e húngaros, que viviam sob o domínio austríaco, aproveitando-se das modificações ocorridas na Áustria, levantaram-se em revoluções de libertação nacional, apoiada por todas as classes sociais. Mas, estabilizada a situação na Áustria com a restauração do absolutismo, os exércitos austríaco e russo esmagaram essas revoluções.
A decisão de enviar tropas contra a revolução na Hungria, em outubro, deu origem a novo levantamento popular, reprimido em menos de um mês. O ciclo revolucionário só foi encerrado em 1852, com o restabelecimento do absolutismo monárquico.

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AS REVOLUÇÕES

No mesmo ano, as safras foram ruins, os preços do alimentos subiram e o ambiente entre os trabalhadores urbanos ficou agitado.
A intelectualidade se uniu aos operários que, em 3 de março de 1848, fizeram uma manifestação nas ruas de Colônia. Duas semanas mais tarde, a insurreição irrompeu em Berlim. No dia 18 de março, a população exigiu de Frederico Guilherme IV o apoio às teses liberais e a convocação de uma assembléia nacional eleita pelo sufrágio universal. Na semana de Março de 1848, as manifestações e os comícios tornaram-se diários, os liberais exigiam uma Constituição, houve um choque entre soldados e manifestantes e logo surgiram barricadas por toda a cidade, lutando unidos contra as tropas reais burgueses, pequeno-burgueses e operários.
As revoltas foram imediatamente sufocada pelas forças prussianas. O rei Frederico Guilherme IV procurou eximir-se da responsabilidade pelo massacre. Retirou as tropas da cidade e a ordem passou a ser controlada por uma milícia civil. A bandeira vermelha, negra e dourada - símbolo de uma Alemanha unida e liberal - triunfava nas cidades prussianas. O rei identificou-se publicamente com a causa nacional alemã e convocou uma assembléia nacional. Em 1849 foi redigida uma Constituição para a Alemanha. Os conservadores, que queriam uma Alemanha unida, sob o domínio da Prússia, mas não liberal, começaram a articular uma reação.
A burguesia tentou tomar partido da revolução de Março de 1848 para unificar os estados alemães. A revolução expandiu-se por quase todos os Estados alemães. Ao mesmo tempo que o Parlamento se ocupava de infindáveis debates, os poderosos latifundiários e os príncipes debatiam-se com a contra-revolução. No mês de Abril desse ano, Marx e Engels tinham chegado à Alemanha e foram se fixar na zona da Renânia.
Em Junho saía nesse local a "Gazeta Renana", dirigida pelo teórico socialista Karl Marx, e custeada por industriais liberais. Este periódico procurou forjar uma aliança entre socialistas e liberais em prol da democracia.
Em Dresden, um reduto liberal e democrata, rebentou um movimentou popular. Em grande parte insuflado por periódicos como a "Gazeta de Dresden", que publicava artigos de Mikhail Bakunin, e "Páginas Populares", para o qual contribuía o compositor Richard Wagner, o movimento carecia de organização. A violenta batalha foi vencida pelas tropas governamentais, que estavam em maior número. Engels deixou Colônia em 10 de Maio de 1849 por Elberfeld, no Reno, cidade onde se ocupara da direção das barricadas. Bakunin foi preso e condenado à morte, mas sua pena foi comutada para prisão perpétua.
Um Parlamento foi reunido em Frankfurt em 18 de maio, abrangendo todas as tendências políticas alemãs. Adotou a supressão dos direitos feudais e aumentou as liberdades políticas. Os representantes dos Estados alemães perderam-se em discussões a respeito da unificação: havia os defensores da República (com partidários do federalismo, unitarismo e da democracia); outros defendiam a solução monárquica, tendo adeptos da participação da Áustria (seria a Grande Alemanha), e outros, com a exclusão da Áustria e predomínio da Prússia (seria a Pequena Alemanha). A solução encontrada, proposta pela burguesia, já em 1849, foi a de uma "monarquia federal" governada pelos Hohenzollern (dinastia prussiana), sendo a Coroa imperial da Alemanha oferecida a Frederico Guilherme IV que, pressionado pela ação dos nobres, recusou-a e não aceitou a Constituição de Frankfurt. Esta atitude foi repetida pelo governo da Áustria e dos outros Estados alemães. Embora o povo e os revolucionários quisessem ver aprovada esta Constituição, acreditando que ela poderia trazer algum progresso em termos de liberdades civis, esta também não lhes satisfez totalmente, visto que deixava o poder nas mãos dos antigos líderes. Começou assim a contra-revolução da nobreza. Em Novembro de 1848, a Assembleia Nacional de Frankfurt foi dissolvida sem oposição pela Prússia, o sufrágio universal suprimido e os privilégios da nobreza restabelecidos. Os junkers, conservadores, membros da nobreza latifundiária, retomaram pouco a pouco o controle da situação. O sonho da unificação havia fracassado. Os radicais continuaram a lutar pela obtenção de justiça social, mas foram esmagados pelo exército prussiano.
Primeiro na Áustria, depois na Prússia, a restauração conservadora acabou por triunfar em toda a Alemanha. O sonho de uma Alemanha unida e democrática estava morto. A burguesia liberal alemã fracassara.
O triunfo da Revolução de 48 e as agitações operárias atemorizavam a burguesia alemã. Ela não aprofundou a revolução nem consolidou seu poder, como fizeram os ingleses (1688) e os franceses (1789). Abandonou seus aliados da véspera, pequeno-burgueses democratas e operários, e recompôs-se com a nobreza restauradora. Nos diversos Estados, as conquistas obtidas (liberdades, diversas Constituições) foram anuladas e o poder dos governantes restaurado em sua plenitude.
Assim ocorreu em Viena, permitindo que os Habsburgo cuidassem das nacionalidades submetidas, como se deu na Hungria, onde Lajos Kossuth proclamara a independência e a República: com o apoio da Rússia, a Áustria derrotou os húngaros e os manteve integrados ao Império Austríaco. Foi então que Frederico Guilherme IV, aproveitando-se da exaltação nacionalista, tentou promover a unificação com o apoio de outros governantes, sem participação da Áustria; contudo, os dirigentes austríacos, tendo sufocado os movimentos na Itália, na Hungria e na própria Áustria, e dispondo ainda do apoio da Rússia, obrigaram o soberano prussiano a encerrar as negociações que vinha promovendo ("Recuo de Olmutz", em 1850).
Assim, também se frustraram as revoluções na Alemanha, não só pela divisão entre os revolucionários, mas principalmente pela debilidade de um capitalismo ainda nascente na Alemanha. Não obstante, o saldo das Revoluções apontou o caminho a seguir: a unificação deveria ser promovida pela Prússia, não mais pela via revolucionária (a emergência de ideologias proletárias levou a burguesia a se desvincular do proletariado), porém, sob a direção dos Hohenzollern.

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ANTECEDENTES

A Prússia emergiu das guerras napoleônicas como uma das cinco potências européias, e o Zollverein (União Aduaneira) fizera com que toda a Alemanha (ou melhor, Confederação Germânica), exceto a Áustria, se ligasse pelo livre comércio e se desenvolvesse. A economia prussiana se desenvolvia a passos largos, mas a sua política não se modernizava. O rei Frederico Guilherme III prometera uma Constituição, mas morreu sem cumprir sua promessa.
Seu sucessor, Frederico Guilherme IV, também não se empenhou em reformas políticas. Mas, precisando de dinheiro para construir uma ferrovia, o rei, obedecendo a uma determinação de seu antecessor, convocou a Dieta Unida, que deveria unir-se em Berlim em abril de 1847.
Os liberais eram maioria nessa Dieta e decidiram aproveitar a oportunidade para pressionar em favor da convocação de um Parlamento eleito pelo povo, condicionando a aprovação do empréstimo à promulgação de uma Constituição pelo rei. Esse, no entanto, mandou dissolver a Assembléia.

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PRIMAVERA DOS POVOS

A revolução na França teve significativas repercussões no resto da Europa. A crise econômica ajudou a Revolução de 1848 a expandir-se pela Europa, atingindo também um dos esteios do Absolutismo, a Áustria, onde o Chanceler Metternich foi obrigado a renunciar. Até mesmo o Brasil pôde sentir os efeitos da onda revolucionária das barricadas francesas, que inspiraria os rebeldes pernambucanos na Revolução Praieira.
O ideal predominante nos demais países europeus onde houve revolução não foi o liberalismo, mas sim o nacionalismo. Os revolucionários desses países queriam libertar seus povos da dominação estrangeira imposta pelas decisões do Congresso de Viena.
Os principais núcleos revolucionários foram Paris, Berlim, Budapeste, Viena e Nápoles, mas a atmosfera de agitação foi igualmente sentida na região dos povos tchecos, em regiões da Itália, Alemanha, Áustria, e até mesmo em Londres. A "primavera dos povos" - como ficou conhecida essa vaga revolucionária - marcou o despertar das nacionalidades — poloneses, dinamarqueses, alemães, italianos, tchecos, húngaros, croatas e romenos —, que exigiram dos impérios a concessão de suas autonomias. Segundo o historiador Eric Hobsbawm, a Primavera dos Povos foi a primeira revolução potencialmente global, tornando-se um paradigma de "revolução mundial" que alimentou rebeldes de várias gerações. Por outro lado, o triunfo eleitoral de Luís Bonaparte mostrou que a democracia, anteriormente relacionada com os ideais da revolução, prestava-se também à manutenção da ordem social.
De 1848 a 1849, tanto as revoluções burguesas como os movimentos populares tiveram um substancial impacto na Europa, mas um pouco por todos os cantos do Velho Continente estas insurreições não tiveram o sucesso ansiado, em grande medida porque a burguesia não se posicionou do lado dos operários e dos camponeses.

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REVOLUÇÃO DE JUNHO DE 1848

Dominada pelo Partido da Ordem, a Constituinte passou a combater as ideias socialistas. Os socialistas, descontentes, reiniciaram as agitações. Em 22 de Junho de 1848 o governo tomou severas medidas para controlar e reprimir os operários, depois dos levantamentos comunistas de 15 de Maio. A dissolução da Comissão de Luxemburgo e, finalmente, o fechamento das Oficinas Nacionais - que empregavam 110 mil operários - provocaram uma forte contestação por parte dos operários fabris. Contra tais decisões Auguste Blanqui, líder socialista, comandou em junho de 1848, as insurreições operárias de Paris.
Desempregados e sem meios de sustento, os operários revoltaram-se espontaneamente levantando barricadas e dispostos a enfrentar o novo poder estabelecido e controlado pela burguesia. "Nós queremos uma República democrática e social", dizia um cartaz afixado pelos revolucionários. Toda tentativa de pacificação foi rejeitada pelos sublevados.
Para tentar suprir o desacato ao poder a Assembleia Nacional Constituinte decretou estado de sítio e nomeou o ministro da Guerra, general Louis-Eugène Cavaignac, chefe do poder executivo, dando-lhe poderes ditatoriais para que este travasse a revolta popular. O general Cavaignac foi ajudado por forças vindas espontaneamente das províncias. Nobres, burgueses, padres e camponeses marcharam ombro a ombro para ajudar Cavaignac a massacrar os insurretos de Paris. A insurreição operária parecia bem encaminhada até ser esmagada, à força de bala, pela ação implacável de Cavaignac. No combate, que durou quatro dias, morreram 1.500 insurretos. A repressão posterior, gerada pelo ódio, vingança e medo dos proprietários, também foi violenta. Após um julgamento sumário, que não deixou nenhum direito de defesa aos condenados, 12.000 insurretos foram presos e 4 mil deportados para a Argélia. Os jornais foram suspensos, as reuniões públicas proibidas e as associações políticas postas sob o controle da polícia. Estava afastado o perigo de uma "revolução social" e a burguesia pôde seguir em frente.

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REAÇÃO CONSERVADORA

A inexperiência política do governo não satisfazia nem as reivindicações dos mais radicais nem as inquietações dos mais conservadores. Mas era principalmente a crise econômica que agravava a inquietude de todos os operários. A falta de mercados para vender seus produtos, o aumento dos impostos, o marasmo econômico, aliado às agitações políticas e à fraqueza e hesitação do governo, provocavam pesadelos no mundo dos negócios.
Diante do "perigo vermelho", a burguesia se preparou. Em 23 e 24 de Abril de 1848, ocorreram eleições para a formação de uma Assembleia Constituinte. O Governo Provisório cessou as suas funções e deu lugar a uma comissão executiva de cinco membros, onde de novo figurava Lamartine. Os socialistas e os republicanos concorriam, mas faltava-lhes organização em nível nacional e sua influência estava quase que restrita a Paris. Já o Partido da Ordem, que representava todos os homens preocupados com a defesa da propriedade, tinha influência nacional, pois se apoiava nos notáveis das cidades e aldeias rurais da França, um imenso país de camponeses. O Partido da Ordem elegeu 700 deputados, alguns favoráveis à monarquia e outros republicanos moderados. Os republicanos radicais e os socialistas não conseguiram eleger nem 100 deputados. Em Junho, Proudhon foi eleito para a Assembléia Nacional Constituinte, onde não conseguiu se fazer ouvir. Sua experiência na Assembléia Nacional selaria sua convicção anarquista de que "o sufrágio universal é a reação", por representar a soma de interesses privados, contrários ao bem comum. A assembléia constituinte foi o primeiro órgão legislativo francês que teve os membros eleitos por sufrágio universal.

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REVOLUÇÃO DE FEVEREIRO 1848

Em 1848, preparava-se uma revolta popular que colhia alguma simpatia por parte da burguesia. A burguesia industrial nomeadamente conseguiu a direito de sufrágio e a redução do censo eleitoral, os operários reclamavam a instauração de uma República e exigiam uma reforma. Com isso a revolta tinha uma petição com 5 milhões de assinaturas.
Os revoltosos combinaram diversas reuniões,entre as quais se destacou o banquete público da oposição de 22 de Fevereiro de 1848, que o governo tentou impedir que se realizasse. A burguesia afastou-se dos operários; contudo, estes, juntamente com artesãos e estudantes, concentraram-se no local combinado. O apelo à rebelião foi lançado por adeptos do sufrágio universal, partidários de reformas sociais e uma minoria socialista, sob a liderança de Louis Blanc, que tinham conseguido escapar às autoridades. Centenas de milhares de insatisfeitos com o desemprego, mas sem um programa político claro, descobriram que queriam derrubar o governo do rei Luís Filipe, de seus ministros e de todo o sistema econômico que os enriquecia às custas dos trabalhadores. No dia seguinte, o centro de Paris estava cheio de barricadas que assustaram os burgueses moderados da oposição. O rei demitiu Guizot na esperança de aplacar a revolta, mas a multidão voltou a protestar e, na madrugada do dia 24, foi atacada a tiros pela Guarda Nacional. Na fuzilaria morreram cerca de 500 pessoas. Os cadáveres foram colocados em carros iluminados por tochas e desfilaram pelo centro de Paris, alimentando a insurreição, dando início a uma luta aberta que se estendeu por toda a cidade. Soldados da Guarda Nacional, enviados para reprimir os manifestantes, uniram-se a eles.
O governo ensaiou oferecer reformas de esquerda para controlar a rebelião que aumentava de proporções, mas já era tarde. Na manhã do dia 24 de Fevereiro, quando inspecionava as tropas, o rei foi vaiado por elas. Os insurrectos controlavam os arsenais. À tarde, já corriam proclamações republicanas. Incapaz de reagir, a Luís Filipe só restava abdicar o trono. O parlamento dissolveu-se. A Monarquia de Julho tinha sido destronada e nascia a Segunda República (1848-1852).
Os grandes burgueses moderados da oposição estavam exasperados,pois o que mais temiam estava nas ruas: a revolução social dos pobres. As ruas de Paris eram tomadas por um contingente de 40 a 50 mil manifestantes, sendo que muitos foram mortos e 15 mil, presos. Rapidamente formou-se um governo de coalizão entre a burguesia moderada, a pequena burguesia republicana e os socialistas. Os primeiros estavam preocupados com a ordem e a estabilidade; os republicanos, com a república e o sufrágio universal; e os socialistas, com a melhoria das condições operárias. Eles foram aceitos no governo devido a sua presença nas barricadas.

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REFORMAS POLÍTICAS

Um governo provisório constituiu-se em 24 de fevereiro, com maioria de republicanos moderados. O Governo Provisório juntava a oposição eleita constitucionalmente e representantes da multidão. Muitos viram neste movimento a expressão - embora vaga - da insatisfação popular ao ver que o ideal de igualdade defendido e em grande parte conquistado durante a Revolução Francesa não havia se estendido à esfera econômica. Nesse governo, onde o poeta Alphonse de Lamartine ocupava as funções de Ministro dos Assuntos Internos e os socialistas eram somente admitidos como empregados, foram chamados a intervir Albert, um operário, e Auguste Blanqui, jornalista e historiador, por imposição direta do povo.
O Governo provisório convocou eleições, as quais deram vitória aos candidatos da burguesia e dos latifundiários. Em 25 de Fevereiro foi implantada a Segunda República, em resultado de uma expressiva manifestação; todavia, esta não veio a corresponder às aspirações dos operários que reclamavam uma reforma social. O sufrágio universal masculino foi estabelecido e por proposta dos socialistas, foi reduzida a jornada de trabalho de 12 para 10 horas diárias. Por pressão dos operários e socialistas, foram criadas as Oficinas Nacionais (ateliers nationaux) - fábricas com capital estatal e dirigidas por operários, destinadas a aliviar a crise econômica e o desemprego, que logo se tornaram improdutivas e custosas, aumentando o déficit público - e a Comissão de Luxemburgo, cujo objetivo era a preparação de projetos de legislação social e a arbitragem de conflitos de trabalho. O novo Governo não tocou no direito à propriedade privada, mas concedeu o tão desejado direito ao trabalho, uma medida que seria posta em prática pela Comissão de Luxemburgo, presidida por Louis Blanc e por Albert, mas os prometidos direitos foram negados por uma direção política burguesa pouco sensível aos problemas do operariado. Na mesma época, Proudhon edita o periódico "O Representante do Povo", onde critica as Oficinas Nacionais, as quais considerava economicamente inviáveis. Propunha que em seu lugar se criasse um Banco de Crédito Popular, que remunerasse o trabalho com cheques descontáveis, para estimular o consumo.
Todos os políticos do novo governo eram parisienses e não possuíam experiência administrativa, ignorando o que ocorria nas províncias francesas, onde as estradas de ferro foram destruídas, castelos foram saqueados e agiotas espancados.
Em Paris, no mês de março, havia calma e as forças presentes no governo viviam em harmonia. A maioria dos operários confiava no governo e esperava uma solução rápida para sua miséria. Mas a harmonia não duraria muito. Os grandes burgueses das diferentes alas tinham superado suas divergências para impedir qualquer ameaça à propriedade e à riqueza. Uma minoria socialista pressionava o governo para que promovesse novas e ousadas reformas sociais. Alguns falavam em abolir a propriedade privada ("a propriedade é o roubo", escreveu Proudhon), a hierarquia social e as tradições, o que assustava também os pequenos burgueses republicanos. Essas pressões não passavam de agitações feitas em jornais, clubes e sociedades socialistas e não representavam perigo, já que a força deles era diminuta nos meios operários parisienses. Mas não deixavam de assustar os burgueses. Os mais preocupados com essa agitação eram a imensa maioria de camponeses, que se preparava para reagir, caso tivesse de entregar suas propriedades.
Este período inicial da revolução, também chamado de República Social, foi marcado pela provisoriedade e pela intensa disputa entre os diferentes interesses envolvidos na consolidação do poder.

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ANTECEDENTES

A partir de 1830, com o fortalecimento das tendências republicanas, a opinião pública européia se radicalizou. O desenvolvimento industrial e o substancial crescimento do proletariado urbano francês entre 1830 e 1850, originaram novos problemas sociais. A situação dos operários era desesperadora. Em Lyon esta classe protagonizou mesmo alguns levantamentos, que foram, todavia, duramente reprimidos pelas autoridades. Depois destes levantamentos populares surgiram um pouco por toda a França sociedades secretas constituídas por operários, ligadas ao movimento republicano e ao movimento do socialismo utópico.
No período que mediou os anos 1845 e 1847 a França foi assolada por dois anos de más colheitas agrícolas, provocadas sobretudo pela praga da batata, que teve uma maior incidência neste país e na Irlanda. Em 1847 a situação agravou-se com uma crise econômica, traduzida na queda do valor dos salários e no encerramento de inúmeras unidades fabris. A instabilidade, no entanto, vinha de trás. Em 1848 a primeira revolta de caráter liberal na Europa foi a de rebeldes sicilianos.

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INTRODUÇÃO

   Dá-se o nome de Revoluções de 1848 à série de revoluções na Europa central e oriental que eclodiram em função de regimes governamentais autocráticos, de crises econômicas, de falta de representação política das classes médias e do nacionalismo despertado nas minorias da Europa central e oriental, que abalaram as monarquias da Europa, onde tinham fracassado as tentativas de reformas políticas e econômicas. Também chamada de Primavera dos Povos, este conjunto de revoluções, de caráter liberal, democrático e nacionalista, foi iniciado por membros da burguesia e da nobreza que exigiam governos constitucionais, e por trabalhadores e camponeses que se rebelaram contra os excessos e a difusão das práticas capitalistas.
   A partir de 1845, a situação política francesa foi profundamente agravada pela eclosão de uma crise do capitalismo. Essa crise acabaria se estendendo por todo o continente e estaria na origem das revoluções liberais que abalaram a Europa Centro-ocidental, no ano de 1848.
   Os anos de 1845 e 1846 foram de péssimas colheitas, desencadeando uma crise agrícola em todo o continente. A crise agrícola iniciou-se em Flandres e na Irlanda, com as péssimas colheitas de batatas. Na Europa ocidental, a má colheita de trigo desencadeou em 1846 uma série de revoltas camponesas. Essa crise desencadeou uma alta vertiginosa do custo de vida, atirou à miséria grandes setores da população rural e reduziu drasticamente a sua capacidade de consumo de produtos manufaturados. A crise se agravou atingindo a indústria e as finanças. A crise, naturalmente, não teve caráter uniforme e atingiu de forma diferente cada região. Foi predominantemente industrial na Inglaterra e na França, mas sobretudo agrícola na Irlanda e na Itália. De qualquer modo, atingiu duramente a massa popular, que se tornou, por isso mesmo, extremamente sensível aos apelos revolucionários difundidos pelos socialistas, que, em 1848, conquistaram grande nitidez no cenário europeu.

Bernardo Guerra, nº1, 2º C